Carnaval por trás de uma lente

Para muita gente pode parecer simples. Para outros, a complexidade do trabalho é óbvia e com isso vem a curiosidade de saber como é feita a cobertura fotográfica dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Acompanhei isso de perto quando o Celso Pupo (marido e fotógrafo, ou nesse caso, fotógrafo e marido) cobriu o carnaval para a Getty Image.

Matei algumas curiosidades e fiz uma entrevista com o Celso. E, conversando com outros colegas jornalistas, vi que minhas dúvidas não eram só minhas.

Comissão de Frente da Unidos da Tijuca

Primeiro, não dá para só separar o material fotográfico antes de sair para a Marquês de Sapucaí. É preciso preparação. Antes do desfile sentamos para trocar figurinhas e acompanhei todos os detalhes que ele precisaria saber, além da melhor lente para usar em determinada situação.

A preparação até começa antes – muito antes – pois o credenciamento é feito com semanas de antecedência e a credencial retirada um dia antes do Carnaval começar. Além disso, os fotógrafos que poderão ir para a pista e andar no meio das Escolas precisam ter um colete específico que dá acesso livre. A disputa é grande e ir até a sala de imprensa antes, ver a posição das mesas e garantir seu espaço também poderá ser fundamental na hora do trabalho (leia-se correria).

Cris Dissat: O que você precisa saber antes de ir para a Avenida?

Celso Pupo: Precisamos saber quem são os destaques, carros principais, nomes e grafias corretas das madrinhas de bateria, destaques, mestres de bateria, celebridades e por aí vai. Na hora de passar a foto, as informações precisam ser completas.

Cris Dissat: Quantas fotos, em média, você faz por desfile?

Celso Pupo: São cerca de 600 fotos por escola. O número de fotos aproveitadas é muito variado. Para uma agência se enviam de 30 a 40 fotos, mas se for para uma matéria específica talvez 3 ou 4 fotos.

Cris Dissat: Como aguentar o ritmo de trabalho de cerca de 10 horas de trabalho sem parar e de madrugada?

Celso Pupo: Na verdade, a gente sente mais no último dia, mas durante o desfile a hora parece que voa. É parecido com o futebol. Nunca a gente sente que se passaram quase duas horas numa partida. A correria é muito grande e o número de atividades também. Quando você vê, a escola já passou.

Cris Dissat: Qual a maior dificuldade na cobertura?

Celso Pupo: Não tem dúvida que é o tempo. A correria em fotografar e voltar para a sala de imprensa para editar e enviar o material para as agências, antes da próxima escola entrar na Avenida.

Cris Dissat: O que é mais interessante na cobertura?

Celso Pupo: Estar em contato, muito próximo, com os integrantes das Escolas de Samba. Bom… se minha mulher não ficar brava, fotografar as passistas. Estou brincando, só para provocá-la. Gosto desse ritmo alucinante da correria da cobertura. Se você não gostar, nem adianta querer fazer.

Cris Dissat: Como é o relacionamento entre os fotógrafos? Muita concorrência ou existe colaboração entre os profissionais?

Celso Pupo: Fotógrafo, de um modo geral, não se sacaneia. Todos se ajudam. Lógico que existem aqueles momentos de disputa em determinados momentos, pelo melhor clique, mas depois que isso passa e a colaboração é melhor do que a concorrência.

Cris Dissat: Quantas pessoas seriam ideais para uma equipe de trabalho?

Celso Pupo: Isso é muito relativo. Tudo depende para onde você vai trabalhar e quais os objetivos da cobertura em questão.

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